As dificuldades de emprego no mercado formal têm incentivado vários citadinos da capital angolana a serem empreendedores
POR: ADÉRITO VELOSO*
A capacidade empreendedora de vários munícipes da cidade de Luanda está patente em tudo aquilo que cada um faz e produz para o seu sustento. A produção artesanal e semi-industrial ganha cada vez corpo na província, numa altura em que as empresas do sector mobiliário também vão ganhando espaço e corpo, num ramo que, cada vez mais, regista um crescimento exponencial, acompanhado a dinâmica do crescimento económico, que o país tem estado a viver nos últimos tempos.
A qualidade e o design são dois binómios que sustentam uma pequena carpintaria, localizada junto à paragem de táxis, ao lado da estrada Futungo de Belas – Benfica, município da Samba, em Luanda.
A referida carpintaria é uma associação de dois cidadãos nacionais, que não poupam esforços, estabelecendo as suas estratégias na excelência de uma decoração onde combinam duas variáveis: modernidade e artesanato, fazendo com que o negócio tenha o máximo de rendimento.
Daniel Pedro, 35 anos, natural de Cabinda e residente em Luanda, confessa que abraçou a actividade de carpinteiro em 2001. Acrescenta que o seu negócio deu um salto a partir de 2003, quando deu início à produção de diversos tipos de mobiliário de lar. Utilizando como matéria-prima junco (bambu) e madeira, ele fabrica camas, sofás, roupeiros, cestos, mesas, cadeirões e outros móveis.
“Nós fabricamos mobiliário para todos os gostos. Os nossos produtos para além também de serem duráveis, já que podem ser utilizado vários anos sem precisar de reparação, ao contrário dos móveis vindos do exterior do país. Eu e o meu colega já reparamos sofás, guarda-roupas e outro tipo de mobiliário proveniente de outros países, o que não acontece com os móveis produzidos na nossa carpintaria”, diferenciou.
A Ilha do Cabo, no município das Ingombotas, em Luanda, consta na história do carpinteiro, por ser o primeiro local onde começou a comercializar o seu produto.
“Temos muitos clientes e, por vezes, também recebemos várias encomendas. Por isso, não temos tido problemas na comercialização dos nossos produtos”, disse, antes de anunciar que o negócio é mais lucrativo em locais turísticos.
Matéria-prima A matéria-prima utilizada nas duas carpintarias vem das províncias do Bengo, Uíje e Cabinda, assim como dos mercados informais de Luanda. A madeira e o bambu têm origem angolana e são trabalhados numa conjugação de técnicas artesanais associadas às mais modernas tecnologias.
DificuldadesO grande problema da carpintaria tem sido a falta de matéria-prima, que, por vezes, tem obrigado à paralisação das suas actividades. Ainda assim, a comercialização dos produtos fabricados naquela carpintaria é rápida e célere, tudo porque o requinte do mobiliário tradicional espelha a qualidade.
“Não existe incentivo nenhum por parte do governo. Nós pagamos taxa ao governo mas nunca vimos melhorado a nossa actividade. Se por exemplo pedir um crédito bancário, não me aceitam. O ministério da Industria ou do Comercio, não nos apoia. Então existe muitos obstáculos para se levar avante este tipo de actividade”, reclamou o interlocutor.
Negócio rentável Apesar da técnica utilizada para a produção dos móveis não ser de alto nível, os nossos interlocutores destacam as suas carpintarias primam numa filosofia mobiliária de padrões aceitáveis, de modos a que nenhum detalhe escape. Esta produção de mobília artesanal tem como principais clientes cidadãos com poucos recursos financeiros em comprar em lojas de venda de movíeis importados.
“As nossas vendas dependem da disponibilidade do material. Nós formamos uma equipa tecnicamente capaz e habilitada em executar mobília de lar e, quem sabe, também de escritório, muito procuradas. Nós temos tido várias obras que os clientes vazem por encomenda. Isto demonstra que já temos e ganhamos o nosso mercado, tudo porque os clientes fazem também por nós a publicidade e, em contrapartida, as nossas peças têm muita aceitação”, disse, por seu turno, Daniel Pedro.
Desafios A falta de incentivo por parte das autoridades competentes assim como as dificuldades de acesso ao crédito bancário constituem também preocupações dos proprietários das carpintarias.
“Já participámos em várias feiras (Feira Internacional de Luanda), onde aproveitámos vender os nossos produtos, bem como encetámos contactos com várias instituições, com o fito de nos ajudarem como adquirir créditos, de modo a que o negócio não fique prejudicado”, concluiu Daniel Pedro.
* Foto: Vigas da Purificação
Sem comentários:
Enviar um comentário