quinta-feira, 24 de setembro de 2009

“Angola não consegue tipificar nem quantificar o seu potencial minério”, disse o vice -ministro da Geologia e Minas, Lourenço Mahamba Baptista.


O governante que me concedeu uma entrevista, no passado mês de Julho de 2009 (publicada no jornal de Economia e Finanças), que os 350 milhões de dólares norte americanos, atribuídos para a concretização do plano geológico nacional são insuficientes, dada a magnitude da empreitada.

Adérito Veloso*

Adérito Veloso (AV) – Como é que caracteriza o sector mineiro do país?
Lourenço Baptista (LB) –
O sector mineiro de Angola é caracterizado basicamente pela exploração dos diamantes, que é o mineiro que mais contribui para o Orçamento Geral do Estado. A seguir, temos a participação das rochas ornamentais e a produção do gesso e inertes, que estão a contribuir directamente para esta fase de reconstrução nacional.
AV – Como será o Plano Nacional de Geologia?
LB
– O Plano Nacional de Geologia é um programa que visa a prospecção ou a identificação, pesquisa e o reconhecimento dos minerais na extensão do país. Nós várias vezes dissemos que Angola é um país rico. Na verdade é um país rico de ocorrências minerais. O país nesta altura não consegue tipificar nem quantificar o seu potencial de recursos minerais. Por isso, este plano vai trazer consigo esta informação que não existia. Vamos poder inventariar todo o potencial geológico - mineiro, e vasculhar o que é que existe no subsolo e no solo de Angola, em termos de minerais. Temos que contar também com as gerações vindouras e saber agora quais são as potenciais reservas que nós temos para definir as jazidas a serem exploradas de imediato e no futuro.
AV – Com que especialista vai contar o Ministério para este desafio?
LB
– Trata-se de uma grande empreitada. Naturalmente tudo que é ajuda e sinergia será bem-vinda. Somos um país grande e tem poucos quadros. Existe uma carência de geólogos no mundo e, em particular, em Angola. Este programa será feito para além da intervenção do Estado. Irão aparecer subprogramas que contarão com parceria público-privada. Nós estamos a contar com todos que querem participar no desenvolvimento de Angola.
AV – Quantos postos de trabalho o Plano Nacional de Geologia poderá proporcionar?
LB
– A prospecção tem um carácter sazonal e, portanto, não emprega para toda a vida. Este é um trabalho de grandes riscos e incertezas. Naturalmente poderá congregar algumas pessoas num determinado período e serão contratos por tempo determinado, porque a própria prospecção tem um tempo de um a cinco anos. Passado este tempo, se felizmente encontrarmos alguns minérios, poderemos criar outras sociedades para a exploração, e os melhores trabalhadores passarão para a segunda fase. Caso não, cessam os contratos. Assim, quantificar os postos de trabalho é um pouco difícil, porque é bem verdade que o programa tem um carácter nacional, mas a sua execução nunca vai ser em toda a dimensão do terreno, porque os recursos são cada vez mais escassos.
AV – Quais são as províncias a serem priorizadas?
LB
– Temos um conceito que chamamos de minérios estratégicos. A depender deste conceito, podemos dar a primazia ou não de explorar este tipo de minério. Então penso que por ali é que será feito o trabalho. As ocorrências afloram em quase todo o país, mas dizer taxativamente onde é um pouco difícil nesta altura, porque só depois deste programa de levantamento aéromagnético é que vamos determinar as áreas potenciais a serem seguidas ou em que zonas especificamente vamos arrancar. Depende do tipo de minério que se quer explorar. O mercado internacional também de alguma maneira vai influenciar-nos ou determinar o que é mais urgente a prospectar. Portanto, não depende só de identificarmos que este é o primário ou não. Depende do mercado e também do interesse do Estado e do sector privado.
AV – Como serão aplicados os USD 350 milhões disponibilizados para a empreitada?
LB
– A verba de 350 milhões de dólares é inicial e irrisória, uma gota de água no oceano. Mas pensamos que com isto já se pode dar o pontapé de saída numa primeira fase. Por isso, iremos precisar de sinergias, das entidades privadas de todo o país, para que de facto venham participar nesta fase, porque vai requerer muito dinheiro. O uso ou aplicação deste recurso será alocado nos materiais necessários para a concretização do projecto. Refiro-me, por exemplo, ao aluguer de aviões aeromagnéticos. Ainda vamos ver se adquirimos estes meios ou vão ser alugados. São vários serviços por se contratar, para que se faça uma primeira visão aeroespacial de modo a se determinar as anomalias.
AV – Que passos já foram dados para o controlo da exploração ilegal dos diamantes?
LB
– O que mais se explora em Angola são os diamantes, industrialmente ou não. Artesanalmente, existe o garimpo. O que vai se fazer agora é legalizar as pessoas que estejam interessadas em explorar os diamantes. A República Democrática do Congo, a nossa vizinha, é a segunda maior produtora de diamantes de África e produz cerca de 30 milhões de quilates por ano com oitenta porcento de material exportado a partir de produção artesanal. Se nós conseguirmos organizar bem a exploração artesanal, ela pode beneficiar servir para o Orçamento Geral do Estado.
AV – Como é que isto será feito?
LB
– Diz o regulamento que serão credenciadas aquelas pessoas que residem nas áreas afins há cerca de dez anos. Estes produtores devem habilitar-se ao exercício desta actividade recorrendo aos órgãos do Ministério da Geologia e Minas, desde a província para encaminhamento posterior à estrutura nacional, onde serão atribuídas concepções mineiras. Esta exploração em primeiro momento será direccionada àquelas áreas abandonadas pela exploração industrial. Não vai ser qualquer área atribuída para a exploração artesanal.
AV – O que o Ministério tem aconselhado às empresas de exploração de diamantes para ultrapassarem esta fase difícil da crise económica e financeira mundial?
LB
– Quando a crise começou a agudizar-se, em Outubro e Novembro, o Ministério disse que era necessário conter as despesas. E depois fez um programa a nível do Governo Central que visava a compra dos diamantes pelo Banco Central, como balizador dos preços, que haviam caído substancialmente. Esta medida trouxe efeitos benéficos logo a seguir. Podemos dizer que a nível mundial a depressão foi mais ou menos de 30 porcento no ranking mundial, mas que em Angola acusamos a recepção até 60 porcento dos preços. Portanto, houve empresas que perderam as suas receitas em até 60 porcento. Quando o Estado anunciou a entrada em vigor destas medidas, os compradores preferenciais aumentaram o preço ao nível mundial. E actualmente as empresas estão a perder de 25 a 30 porcento das suas receitas, mas a este nível, as empresas rigorosas como Catoca, Chitotolo, SDM, Cuango e Luminas aguentam-se sem nenhum problema porque é mais do que o mínimo da sua margem média de rentabilidade anterior. Então elas estão a trabalhar ao nível break-even, (ponto crítico ao nível de custos). Se não houver mais nenhuma depressão, elas irão resistir sem nenhum problema. As empresas pequenas, e por sinal parte delas, já tinham problemas de rentabilidade, não suportaram a crise, e estamos a procurar encontrar alguma equação para que elas reatem o seu trabalho.
AV – Apesar da crise económica e financeira mundial, como é que se pode caracterizar o ano de 2008 quanto à exploração de diamantes?
LB
– A crise actuou a partir dos pólos. Estávamos no último trimestre do ano e boa parte das empresas já tinha esboçado os seus trabalhos. Já eram passados três trimestres de boa produção, o que garantiu um saldo anual positivo. Em termos de quantidades ou volume de quilates, os números cifraram-se na média anterior. As receitas são que foram afectadas com a crise económica mundial. Portanto, o ano 2008 caracteriza-se com este facto, de o volume não ter sido atingido, mas sim as receitas terem sido afectadas com a crise económica e financeira mundial.
AV – Como está a actividade de prospecção?
L.M.B.
– Nós tínhamos as empresas de exploração e prospecção. Quase todas elas, por causa da crise, ficaram paralisadas. Estavam a operar neste momento cerca de quatro, com maior destaque ao projecto Lunda-Nordeste, onde está a multinacional De Beers, tendo em conta as capacidades financeiras do investidor, que consegue contrapor os efeitos da crise. Na fase de exploração, algumas empresas se ressentiram muito da crise. Eram cerca de dezasseis que estavam na fase de exploração. Nesta fase com maior destaque o Ministério conta com a Catoca, Chitotolo, SDM, Cuango, Luminas, o projecto Chimbondo, o projecto Quisangidi, Luwó e CML.




Fotos: Vigas da Purificação*

sábado, 19 de setembro de 2009

Angolano investe na indústria metalúrgica




Adérito Veloso*



Jorge Luamba, 40 anos é um “jovem” angolano arrojado, que fez das “tripa o coração” (da barriga o ânimo) até que conseguiu montar no pólo industrial do município de Viana, Km18, no edifício Only, em Luanda, uma fábrica ligada à montagem de estruturas metálicas.
Cognominada de Luambagest (Empreendimentos, Lda) a unidade industrial fabrica e monta escadas, corrimões, portões, gradeamentos, estruturas para construção de edifícios, armazéns, coberturas para estádios de futebol, pavilhões e pontes metálicas, além de soldaduras, gasodutos e oleodutos (pipelines). O investimento da unidade fabril está avaliado em cerca de 12 milhões de Dólares.



Segundo fez saber o administrador da unidade fabril, Jorge Luamba, as estruturas metálicas fabricadas pela sua firma têm contribuído bastante no crescimento do sector de construção civil, já que têm facilitado na aquisição destes materiais a internamente, evitando a sua importação. “O sector metalúrgico em Angola ainda está muito aquém das encomendas, pois constata-se um défice neste sector, visto que a matéria-prima é toda importada, principalmente o ferro”, afirmou.



Construção A fábrica transforma a matéria-prima, no caso do ferro, para projectos de edifícios e estruturas metálicas, construção de armazéns e outras infra-estruturas. “Nós estamos preparados para fabricar tudo que está ligado ao sector metalúrgico”, gaba-se. O empresário diz que apostou neste segmento, porque acredita que o sector de construção civil, é hoje em Angola o ramo que mais cresce e precisa de muita matéria-prima para suportar os vários empreendimentos que o Governo e as empresas privadas estão a levar a cabo um pouco pelo país.



“O sector está em franca expansão e exige uma resposta adequada por parte dos investidores, tanto nacionais como estrangeiros, de modo a produzirmos localmente os materiais de construção civil, facilitando à sua aquisição”, disse o responsável. Para ele, sem indústrias o país não vai desenvolver, uma vez que se entrou na fase de reconstrução e construção de infra – estruturas destruídas pela guerra.



Trabalho A unidade fabril produz consoante as encomendas dos clientes, podendo efectuar mensalmente obras no valor de um milhão de Dólares. “Nós estamos receptivos a todos aqueles que apostam seriamente no sector da construção civil”, disse, para acrescentar que neste momento o volume de negócios da empresa ronda em cerca de um milhão de Dólares por mês. Apesar de o país registar um potencial mineiro, o mercado metalúrgico nacional é abastecido por produtos importados, tudo porque a exploração desses recursos é quase diminuta.



Dificuldades Há cinco anos no mercado angolano, a Luambagest continua ainda a atravessar muitos problemas, mas a fase mais crítica foi ultrapassada e o futuro é animador. “Nós tivemos muitas dificuldades por altura da implementação da fábrica, já que este tipo de actividade exige mão-de-obra qualificada”, afirmou Jorge Luamba.



Expansão Quanto ao processo de extensão para as outras províncias do país, Jorge Luamba não pôs de parte essa possibilidade, dizendo que a sua empresa está pronta em montar estruturas metálicas em qualquer parte do país desde que seja solicitada. “Estamos a encetar contactos em várias províncias e aguardamos. Neste momento, além da província de Luanda, a nossa empresa está a montar alguns empreendimentos na província do Huambo”, salientou o administrador.



Projectos A Luambagest pretende lançar brevemente no mercado imobiliário angolano, o projecto denominado “Moradias Uni familiares”. O mesmo terá um custo que rondará entre os 70 e 130 mil Dólares, por cada residência. Para estas empreitadas, a empresa pretende utilizar tijolo de barro vermelho de origem sul-africano e telhado de produção nacional. Uma casa normal com extensão de 100 m2 poderá custar cerca de 70 mil Dólares, enquanto um rés-do-chão o seu custo rondará os cerca de 130 mil Dólares. Quanto à modalidade de pagamento, ainda está a ser estudada”, concluiu o jovem gestor.

Matéria também publicada no JE
* Fotos de Pedro Salvador

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

PEQUENOS INVESTIMENTOS GERAM GRANDES NEGÓCIOS


As dificuldades de emprego no mercado formal têm incentivado vários citadinos da capital angolana a serem empreendedores


POR: ADÉRITO VELOSO*


A capacidade empreendedora de vários munícipes da cidade de Luanda está patente em tudo aquilo que cada um faz e produz para o seu sustento. A produção artesanal e semi-industrial ganha cada vez corpo na província, numa altura em que as empresas do sector mobiliário também vão ganhando espaço e corpo, num ramo que, cada vez mais, regista um crescimento exponencial, acompanhado a dinâmica do crescimento económico, que o país tem estado a viver nos últimos tempos.


A qualidade e o design são dois binómios que sustentam uma pequena carpintaria, localizada junto à paragem de táxis, ao lado da estrada Futungo de Belas – Benfica, município da Samba, em Luanda.


A referida carpintaria é uma associação de dois cidadãos nacionais, que não poupam esforços, estabelecendo as suas estratégias na excelência de uma decoração onde combinam duas variáveis: modernidade e artesanato, fazendo com que o negócio tenha o máximo de rendimento.
Daniel Pedro, 35 anos, natural de Cabinda e residente em Luanda, confessa que abraçou a actividade de carpinteiro em 2001. Acrescenta que o seu negócio deu um salto a partir de 2003, quando deu início à produção de diversos tipos de mobiliário de lar. Utilizando como matéria-prima junco (bambu) e madeira, ele fabrica camas, sofás, roupeiros, cestos, mesas, cadeirões e outros móveis.


“Nós fabricamos mobiliário para todos os gostos. Os nossos produtos para além também de serem duráveis, já que podem ser utilizado vários anos sem precisar de reparação, ao contrário dos móveis vindos do exterior do país. Eu e o meu colega já reparamos sofás, guarda-roupas e outro tipo de mobiliário proveniente de outros países, o que não acontece com os móveis produzidos na nossa carpintaria”, diferenciou.


A Ilha do Cabo, no município das Ingombotas, em Luanda, consta na história do carpinteiro, por ser o primeiro local onde começou a comercializar o seu produto.


“Temos muitos clientes e, por vezes, também recebemos várias encomendas. Por isso, não temos tido problemas na comercialização dos nossos produtos”, disse, antes de anunciar que o negócio é mais lucrativo em locais turísticos.


Matéria-prima A matéria-prima utilizada nas duas carpintarias vem das províncias do Bengo, Uíje e Cabinda, assim como dos mercados informais de Luanda. A madeira e o bambu têm origem angolana e são trabalhados numa conjugação de técnicas artesanais associadas às mais modernas tecnologias.


DificuldadesO grande problema da carpintaria tem sido a falta de matéria-prima, que, por vezes, tem obrigado à paralisação das suas actividades. Ainda assim, a comercialização dos produtos fabricados naquela carpintaria é rápida e célere, tudo porque o requinte do mobiliário tradicional espelha a qualidade.


“Não existe incentivo nenhum por parte do governo. Nós pagamos taxa ao governo mas nunca vimos melhorado a nossa actividade. Se por exemplo pedir um crédito bancário, não me aceitam. O ministério da Industria ou do Comercio, não nos apoia. Então existe muitos obstáculos para se levar avante este tipo de actividade”, reclamou o interlocutor.


Negócio rentável Apesar da técnica utilizada para a produção dos móveis não ser de alto nível, os nossos interlocutores destacam as suas carpintarias primam numa filosofia mobiliária de padrões aceitáveis, de modos a que nenhum detalhe escape. Esta produção de mobília artesanal tem como principais clientes cidadãos com poucos recursos financeiros em comprar em lojas de venda de movíeis importados.


“As nossas vendas dependem da disponibilidade do material. Nós formamos uma equipa tecnicamente capaz e habilitada em executar mobília de lar e, quem sabe, também de escritório, muito procuradas. Nós temos tido várias obras que os clientes vazem por encomenda. Isto demonstra que já temos e ganhamos o nosso mercado, tudo porque os clientes fazem também por nós a publicidade e, em contrapartida, as nossas peças têm muita aceitação”, disse, por seu turno, Daniel Pedro.


Desafios A falta de incentivo por parte das autoridades competentes assim como as dificuldades de acesso ao crédito bancário constituem também preocupações dos proprietários das carpintarias.


“Já participámos em várias feiras (Feira Internacional de Luanda), onde aproveitámos vender os nossos produtos, bem como encetámos contactos com várias instituições, com o fito de nos ajudarem como adquirir créditos, de modo a que o negócio não fique prejudicado”, concluiu Daniel Pedro.


* Foto: Vigas da Purificação